A Cidade da Luz (Edição Oficial Panini Scan)




 

Sinopse: A história se passa em uma cidade no alto de uma colina, chamada Cidade da Luz. Porém, no interior destes edifícios reina uma escuridão profunda que contrasta com a luz do sol... Tasuku é um menino que mora nesta cidade e é  porta-voz de um misterioso grupo que organiza suicídios por telefone. Vários outros personagens são apresentados,  que levam vidas normais, mas  acabam presos nas histórias da cidade. Entre eles está Hoichi: um jovem que se aventura no lado negro da cidade com o  nobre objetivo de “redimir” a cidade e reconstruí-la como a via quando criança.



O mundo um dia vai acabar. Embora essa frase seja um tanto quanto controversa, visto que “mundo” acabar depende muito da perspectiva e do que é que estamos falando, ela guarda uma verdade universal inconteste: um dia, tudo terá um fim. Os momentos alegres cessarão, os momentos tristes também. A vida acabará. Todos nós, mais ou cedo ou mais tarde, pereceremos. Não ha alternativa. Este é um dos temas que cercam a Cidade Luz.  

O mangá compila diversas histórias de Inio Asano que se passam no mesmo ambiente, uma área residencial próxima a Tóquio chamada Cidade Luz. Embora sejam histórias que poderiam ser descritas como independentes, elas estão conectadas entre si por meio de personagens ou eventos. Por exemplo, um artista de mangá testemunhará um suicídio em uma história; em outro lugar descobriremos que há algo mais do que mero suicídio; Em outra história, o personagem principal será o coadjuvante da história anterior, e assim por diante. 



O que  todas as histórias têm em comum é o cerne da tragédia humana, com pouco espaço para  alegria e felicidade. Não é de surpreender que o suicídio e a morte apareçam continuamente na obra, como se pretendessem representar o final inevitável  de cada obra. 

Os personagens refletem sobre suas vidas, a de seus entes queridos e a de outras pessoas, sempre marcadas pela tristeza. Eles têm ideias, sonhos e esperanças, mas também muitas preocupações. Em outras palavras, os personagens de Inio Asano representam pessoas reais e verossímeis, facilmente reconhecíveis entre as pessoas ao seu redor.  

Há toques de realismo fantástico, mas ainda assim todos os personagens parecem credíveis, parecem pessoas que você encontraria na esquina ou talvez até olhando no espelho. Essa “credibilidade” é aumentada porque todos os que aparecem no mangá são únicos, com cada um tendo um motivo diferente de desesperança, de falta de fé na vida e na humanidade, ou, por outro lado, de alegria e motivação para viver. O resultado é uma obra harmoniosa e redondinha…



Em “Para onde vai a estrelinha que brilha”, acompanhamos a história de um mangaká passeando pela cidade em busca de referência para um de seus trabalhos. Ao lado da namorada, ele acaba refletindo sobre sua vida, seus amigos e sua falta de perspectiva. É uma história que já te coloca para baixo, ao abordar logo de cara o suicídio de uma pessoa anônima. 

Porém, o todo não é tão depressivo, pois – embora passe pela cabeça do protagonista a ideia de que em breve a morte pode lhe visitar e de que seu esforço como mangaká não é suficiente – a mensagem que a história passa é de que a vida sempre segue e que, ao lado de pessoas queridas, os pequenos momentos transformam-se em algo único e satisfatório.   

Essa mesma reflexão se faz presente em “Ponto de ônibus”, a segunda história do mangá, mas de uma forma diferente e mais densa. Esta é a história mais pesada do mangá, na medida em que segue uma série de personagens em circunstâncias infelizes. 



O personagem principal, seu pai, seu melhor amigo, todos, cada um à sua maneira, vivem uma situação de total desespero, por causa da injustiça e da perda de entes queridos. O tema ao longo desta história é a questão do suicídio, desde o anônimo até o personagem principal. Mas apesar do imenso sofrimento que os personagens suportam, a ideia de que existe alguém em quem simplesmente se pode confiar transforma a vida em algo mais suportável, mais depressivo e auto-indulgente. 

A morte não existe mais...    “hPa”, a terceira história, é a história mais leve e de certa forma, é a história que mais destoa do tom pesado do mangá. Na história, dois adolescentes falam sobre suas vidas, a situação dos pais, etc. Ainda que você também veja o drama aparecendo (o namorado que deixou de ser carinhoso e só ficava pedindo sexo; o pai que foi despedido; as cobranças, etc) a narrativa é leve e termina de uma forma bem positiva. O legal de “hPa” é o tom de, em certo sentido, realismo fantástico, com uma personagem que diz ver aliens e conversar com os mortos. Outro ponto que deve ser levantado é que nessa história também é mencionado levemente a ideia de que um dia o mundo acabará, relacionando-se, de certa forma, com a quinta história que falaremos mais adiante e dando mais harmonia ao todo do mangá.   

Em “Home”, a quarta história, acompanhamos dois homens que vivem juntos e cuidam de uma criança. Embora o convívio entre os três e o lar deles seja parte importante do enredo, o título da história remete ao verdadeiro lar de um dos protagonistas que foi transformado pelo poder do dinheiro. E esse é o tema dominante da história, a importância do dinheiro na vida das pessoas. “Home” mostra o que acontece com quem ganha muito dinheiro, mostra as necessidades de quem precisa dele, além de falar da ganância, mesmo que seja uma ganância para realizar um sonho.   

Esse tema da importância do dinheiro não é apenas debatido em “Home”. Nas três histórias anteriores, ele também está presente e faz parte do drama dos personagens, que podem levar a situações mais desesperadas como o suicídio em “Ponto de ônibus”. Entretanto, nelas há apenas leves menções e não são o tema central. A única história que não tem qualquer relação com esse tema é “Rebirthday song”, a última delas.   “Rebirthday song” traz de volta o tom de realismo fantástico, com um personagem – um garoto de 5 anos – que diz ter morrido há exatos 5 anos e reencarnou para ficar perto de sua ex-namorada, uma professora que agora irá se casar. A ideia de fim do mundo como metáfora para a morte também volta a aparecer, dessa vez de uma forma mais consistente, já que temos o elemento fantástico e mítico da reencarnação.   



Se em “hPa” já tivemos menções a espíritos, em “Rebirthday song” nós temos toda uma divagação sobre um ciclo a mais, que vai além da morte física. O interessante é que a reflexão provocada pelo garotinho acaba sendo bem parecida com aquela que terminaria na morte: a vida é uma sucessão de coisas, sejam alegres, sejam tristes, em um eterno ciclo. E a única coisa que pode acabar com o ciclo é a morte definitiva, no caso de “Rebirthday song”, o fim do mundo.   Há várias camadas de leituras que podem ser abordadas em A cidade da luz que englobem todas as histórias unificadamente e separadamente, mas uma análise desse porte seria mais adequada para um trabalho acadêmico do que para um texto em um blog. Ainda assim comentamos bastante e conseguimos passar um pouco do que é esse mangá.   

A cidade da luz é um mangá muito bom, com um desenvolvimento para lá de interessante e que consegue cativar o leitor e o prender naquele mundo. Entretanto, não é uma obra fácil de ser digerida. Não estou dizendo que é um “quebra-cabeça” como o Hológrafo de Nijigahara, mas sim que  nos cansa como humanos, porque  nos traz de volta à nossa própria realidade, aos nossos próprios quebra-cabeças. esconder. . esqueça que eles existem. Vemos as emoções e o drama dos personagens e facilmente imaginamos seus entes queridos sendo influenciados pelo dinheiro, pela sociedade, etc. City of Light é um mangá criado para nos decepcionar…



• Nome: A Cidade da Luz

• Nomes alternativos: ひかりのまち

• Tipo: Mangá 

• Autor(a): Inio Asano

• Volumes: 1

• Status: Completo

• Demográfico: Seinen

•Gêneros: Psicológico,Romance,Comédia,Drama,Slice of Life,Tragédia

• Editora: Panini

• Publicado em: 2017







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